© Paulo Abreu e Lima

quarta-feira, 9 de abril de 2014

vácuo ou semelhante

Gostam muito de se embrulhar em papelotes coloridos, é o que é. O laçarote farfalhudo serve de graça no topo de tudo, mira-se ao longe e procura-se um retoque, compõe-se a indumentária final e lança-se ao mundo. Não interessa o que é, importa lá isso para gente que se preze. Relevante é o acabamento final, divulgado por sinais razoavelmente percetíveis. A cruel verdade fica lá dentro, pois. Abafada, morta, acabada por uma pele que não a deixa transladar do corpo para fora. 

(Admito sonhos impossíveis, vontades incontroláveis, miragens irrealizáveis, ilusões fortes e desejos censuráveis. Gosto pouco, muito pouco, de necessidades persecutórias de transmissão de estados falsos. Perdoem-me lá qualquer coisinha, andem. É mania de profissão.)

6 comentários:

  1. Eu gosto de ler o que escreve, CF, mas nem sempre entendo bem "onde quer chegar", como é um pouco o caso aqui.
    E já ia a meio, a pensar se é de mim ou da vertente às vezes algo críptica da sua maneira de se exprimir, achando que isso podia até ter a ver com a sua profissão, que se move por "terrenos" meio ocultos e está muito ligada ao que há em nós de mais insondável, se quisermos, quando dei com o seu final: "Perdoem-me lá qualquer coisinha, andem. É mania de profissão." E desatei a rir... :)

    Voltando ao post: refere-se à diferença parecer/ser, ao que se oculta por oposição ao que se mostra? Foi o que me pareceu. Mas, se calhar, isto é redutor em relação ao que pretende dizer...

    Beijinho :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. :) O que vale é que quem me lê já sabe o que se passa nesta "casa", por vezes difícil de decifrar, como tão bem diz... Falava dessa diferença, sim, na forma muito específica da vontade de se ter em sociedade determinadas posições que não correspondem à verdade. Uma construção falaciosa que só " engana" que vê, porque a verdade, nua e crua, está sempre lá dentro de quem tenta enganar o mundo. E é exactamente lá que ela faz doer, se for o caso...

      Um beijinho para si. Vou tentar codificar-me em sinais mais perceptíveis. Vamos ver se sou capaz... :)

      Eliminar
    2. Não tem que tentar modificar nada, CF, era o que faltava... Isto cada um tem o seu estilo e ainda bem que somos todos diferentes. Nós (leitores) é que temos que nos adaptar, em querendo. Faz parte do engraçado da coisa, também. E, como vê, a minha interpretação nem andava muito longe do que quis dizer. ;)

      (Ainda um dia lhe hei-de contar a minha primeira impressão do seu outro blogue e as várias fases por que foi passando o meu entendimento da sua particpação neste. Mas isso fica para depois...Digo-lhe só que é aqui que tenho descoberto mais sobre a sua escrita, que gosto de a ler, como já lhe disse, ainda que às vezes tenha dúvidas. Mas então pergunto...)

      Beijinho

      Eliminar
    3. E faz muito bem, que cá estou para responder, sempre que seja necessário... :) Sabe, o pessoal da psicologia vive no mundo críptico da existência. Não há como fugir e com o tempo nota-se a léguas... :))

      Obrigada pela sua simpatia. Outro beijinho para si.

      Eliminar
  2. Pergunto CF: psicóloga, analista, psicanalista?
    Mania de saber. A culpa é da nossa Isabel que levantou um dos sete véus...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu explico, claro. :) A formação de base é psicologia, mas como qualquer outro colega trabalho ligada a uma vertente. Faço psicoterapia com base no modelo relacional dialógico, uma corrente com origens nos trabalhos de Vygotsky, que privilegia a concepção da personalidade com base no activo e no social. Defende que nos construímos numa ordem relacional, ou seja, num intercâmbio constante entre o eu, o outro e a realidade. Porque escolhi esta? Porque de todas as que conheço é a que melhor me explica como crescemos, como somos, como evoluímos, como melhoramos, como nos tornamos pessoas. Se gosto de alguma outra? Gosto, gosto muito. Apaixonei-me há muito pelas abordagens psicodinâmicas, mas apesar de tudo, sempre me foram limitativas na construção da identidade...

      Só como curiosidade, deixo-lhe uma explicação sobre a abordagem psicoterapêutica neste modelo. Somos um outro relacional que damos contingência, sempre. Essa contingência, para nós, é o alicerce de construção de qualquer personalidade, e, por conseguinte, a base impulsionadora de evolução.

      Espero ter minimamente esclarecido, mas se não foi o caso, disponha. Terei todo o gosto em explicar melhor...

      Um beijinho para si.

      Eliminar