© Paulo Abreu e Lima

terça-feira, 6 de maio de 2014

alma

Preciso de verbos convictos na transmissão do que pretendem, preciso de amar com paixão, de regatear com firmeza, de viver com energia, de ir com direcção. Não gosto de  expressões mornas de acção, de fraquezas de fadiga, de carradinhas de pão que seguem iguais e tabeladas sem margem de progressão, de versos sempre iguais e de fórmulas sem inovação. Exijo o direito de andar com as mãos no chão, de poder gritar com ânimo num espectáculo com tectos de céu, de subir montes com determinação e de descê-los por decisão. Não aprecio em nada a vivência dos estados mornos da excessiva cortesia, a existência fácil da domesticação, a modéstia imensa da vacuidade do verbo encher, do deixar andar, do deixar passar. Peçam-me, solicitem-me que escute com energia, que respire com renovação, que viva com emoção, e que apenas me socorra da calma para a estrutura, para o alento certo do colo, para o sossego da pertença, para a constância do rigor principal. Depois disso e daí para fora é deixarem-me respirar, é permitirem-me a urgência do querer, o arbítrio do escolher, a opção de mudar e a liberdade de ficar. Tudo sempre com a convicção de jamais demorar por cansaço. 

( O verbos para serem fortes precisam de alma impressa. Ninguém ama sem paixão, ninguém regateia sem firmeza, ninguém vive sem energia, ninguém caminha sem direcção. Apenas gosta, solicita, passa e passeia.)

6 comentários:

  1. Tem imensa razão CF! Tudo tem de ser feito intensamente, chamemos-lhe alma, entusiasmo, personalidade ou convicção... Porque é nessa paixão que a vida é mais e melhor :))

    Beijinho

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    1. Chamo-lhe alma porque gosto da palavra em si. Mas sim, qualquer uma delas pode ser... Aplicá-las nos gestos dos dias é para mim um dos caminhos para ser feliz... :)

      Um beijinho.

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  2. Este post divide-me. Uma parte de mim está consigo. Mas a outra parte está com a a necessidade premente do vagar, da lentidão, daquilo que se prolonga sem bem se saber porquê. Ou, antes, sabendo que o saborear é lento, intensamente lento.
    Hoje o "olhar" é um dos meus maiores cinco sentidos. Antes era o tato. Imediato e galopante. Agora olhar o tacto e tactear olhando fundem-se num só e único bem estar.
    Não sei CF. Até os mimos, as carícias, precisam de uma certa paz e tranquilidade que são o contrário de morno ou indiferente. Aprende-se tanto com a vida...

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    1. Eu sei que se aprende Helena, aprendemos sempre, não é? :) Nem sabe, e pegando nas suas palavras, o quanto sinto falta de tempo e de vagar, o quando me apetece sempre uma tarde sem horas, um dia sem limites, uma tranquilidade possível apenas na paz do nada. Quando falo em alma falo de viver com arbítrio e energia, e não por obrigação. Não é impossível viver paz, mimo e sossego com alma e paixão . Basta para isso que nos entreguemos com a vontade do querer... Digo eu, modesta aluna desta vida apaixonante... :)

      Um beijinho para si.

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  3. Eu entendo :-)
    Não se trata de pressa, de histeria ou de excessos. Trata-se se intensidade, de sentimento, de verdade posta nas coisas, mesmo que elas se façam com todo o vagar do mundo e no maior dos silêncios. Trata-se de não renegar a extrema importância da vida.
    Um forte abraço.

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    1. :) Exactamente. Algo que grande parte do norte sabe na perfeição como se faz. Talvez por isso seja sempre tão bom senti-lo cá em baixo.*
      Abraço apertado para ti.

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