A vida é feita de pequenos nadas? A vida é feita de pequenos nadas que valem tudo. Um dia bem cedo descobriu, quando a cortina da janela deixou entrar o pequeno bichinho que voava sem direcção e lhe encontrou o nariz. Ele sacudiu-lho ao de leve, ao de leve é a expressão certa para explicar carícias, se é que se explicam. Era a segunda ou a terceira noite, sabe lá. Era uma das primeiras, isso sabe. Poderia ter sido outra tanto tempo depois, é o ar que se respira sempre pelo peito que engrandece o sentimento (tempos depois). O peito cheio de pequenos nadas, como a carícia que cuida a ligação exacta entre a pele e o coração ( a pele vazia de tudo é um lugar sem dono). Ela sorriu com os dois olhos e deixou que o bicho voasse para longe ao som fresco da cortina aberta. Encostou a cara no travesseiro e adormeceu outra vez devagarinho, não há pressa quando se respiram pequenos nadas. A manhã não acabou naquele dia, era sempre princípio até ao fim do entardecer. As conversas, soltas, eram simples e desconexas. – Que estranho, dizia ele, ainda agora te espreitei de madrugada e o tempo já passou. – Olha, que lindo pássaro, respondia ela. Voa para longe do mar, amanhã deve chover. – Vamos a pé? perguntou ele. – Gostaria de ir de mão dada e devagar. Se pudesse ser apanhávamos limões pelo caminho, responde. - Limões? - Sim, limões. Gosto tanto do sabor acre e doce da limonada...
© Paulo Abreu e Lima
quinta-feira, 22 de maio de 2014
doce limão
A vida é feita de pequenos nadas? A vida é feita de pequenos nadas que valem tudo. Um dia bem cedo descobriu, quando a cortina da janela deixou entrar o pequeno bichinho que voava sem direcção e lhe encontrou o nariz. Ele sacudiu-lho ao de leve, ao de leve é a expressão certa para explicar carícias, se é que se explicam. Era a segunda ou a terceira noite, sabe lá. Era uma das primeiras, isso sabe. Poderia ter sido outra tanto tempo depois, é o ar que se respira sempre pelo peito que engrandece o sentimento (tempos depois). O peito cheio de pequenos nadas, como a carícia que cuida a ligação exacta entre a pele e o coração ( a pele vazia de tudo é um lugar sem dono). Ela sorriu com os dois olhos e deixou que o bicho voasse para longe ao som fresco da cortina aberta. Encostou a cara no travesseiro e adormeceu outra vez devagarinho, não há pressa quando se respiram pequenos nadas. A manhã não acabou naquele dia, era sempre princípio até ao fim do entardecer. As conversas, soltas, eram simples e desconexas. – Que estranho, dizia ele, ainda agora te espreitei de madrugada e o tempo já passou. – Olha, que lindo pássaro, respondia ela. Voa para longe do mar, amanhã deve chover. – Vamos a pé? perguntou ele. – Gostaria de ir de mão dada e devagar. Se pudesse ser apanhávamos limões pelo caminho, responde. - Limões? - Sim, limões. Gosto tanto do sabor acre e doce da limonada...
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Acre e doce - sabor de eleição. :) Limonada, que saudades das belíssimas limonadas na Tunísia... :), são raríssimas nos cafés por cá.
ResponderEliminar:) É fazer em casa. Duvido que não haja por aí os ingredientes da fotografia...
EliminarBeijinho
O acre e doce sente-se ao olhar para a fotografia!
ResponderEliminarMais uma vez um post lindissimo. Frase a frase sentimos ( ... sentimos mesmo! ) a doçura, a calma, o saborear, a partilha desconexa ... o acre e doce!
Beijinho
Obrigada Maria João. ( A fotografia está linda, é mérito do Paulo... :)) Um beijinho para si e bom fim de semana...
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