© Paulo Abreu e Lima

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Eleições Europeias: Qual é a pressa?

Todos nós temos uma costela masoquista – há quem a tenha exuberante e quem a tenha bem escondida. Ora, o que é que a minha me diz? Que quem devia ter ganhado as últimas legislativas era o PS mai-lo seu timoneiro feroz. É uma questão de princípio: quem estraga e suja tem o dever de consertar e limpar. Neste sentido, Sócrates foi muito mais coerente e corajoso do que Guterres ao decidir recandidatar-se. Para masoquismo do meu masoquismo, perdeu. E foi aprender umas cenas em Paris exalando aos seus indefectíveis um promissor Je t’aime. Não tenho a menor dúvida porém que, se tivesse ganhado com maioria absoluta, as suas medidas não seriam muito diferentes das do actual PM. Com uma não despicienda diferença: não ficava careca – o Luís compunha-lhe o capachinho. E à semelhança dos "PEC em PEC", teríamos um chorrilho de "resgate em resgate", ou "chumbo em chumbo", mesmo ao Domingo.

Este governo tem muitos defeitos, mas é preciso lembrar que o que muitos dos insuspeitos ex-governantes, que muito contribuíram para este estado de desgraça, chamam de copiosa incompetência,  não foi mais do que a aplicação duramente negociada das medidas exigidas pelos credores para libertarem as respectivas tranches de carcanhol a cada avaliação. E, ainda não esquecer, que se hoje os impostos são pornográficos, em grande parte deve-se às interpretações arqui-executivas do Tribunal Constitucional.

O que é que isto tem a ver com as eleições europeias? Tudo. Se querem castigar esta Europa insensível e se não têm memória curta, votem! Em branco, no Marinho e Pinto ou no José Manuel Coelho, o taralhouco da Madeira, tanto faz; todas estas opções são as mais consentâneas com as nossas participações de excelência no Festival da Eurovisão. Ah, mas vós quereis vencer, mostrar a Conchita que há em vós, e empunhar o encarniçado cartão amarelo ao governo. Porreiro pá, votem no PS. Mas porque sois mais masoquistas do que eu e quereis mesmo um novo resgate, certo? Certo. Contudo, qual é a pressa?


8 comentários:

  1. Estou tão de acordo com tudo isto, Paulo, que até me chega a dar nervos...

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  2. TERESA PERAlTAmaio 23, 2014

    Mais do que nervos!.. "Nervos" é apenas o apelido. O julgamento é feito a partir de um passado recente, que teve, é certo, algumas situações de cartão amarelo, especialmente a nível de estado social, mas que foram sempre melhores do que o estado de bancarrota, sem dinheiro para pagar ordenados e pensões a 1 mês. Assim, não levámos com mais PEC(S), mas vamos levar com um novo resgate. E, depois de tantos sacrifícios... :(

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    1. O Estado Social é das melhores conquistas do mundo ocidental e, entre este, da Europa. Devemos a tudo o custo garanti-lo, aliás, se há receita bem gasta é nele. O facto de neste momento de assistência financeira ter sido duramente afectado, não quer dizer que tenha sido por imposição ideológica, mas por falta de recursos. E a melhor forma de garanti-lo é, antes de tudo, garantir a sua sustentabilidade financeira, não mais recorrendo ao endividamento.

      Uns dão a cabeça por equilibrar as contas, outros destroem. Veja-se as oitenta medidas do programa de Seguro. Quem paga? Enfim...

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  3. A questão é que vais votar nas "europeias". Eu vou. E voto à esquerda. Não, não estou a votar na nódoa do Seguro, no Coelho da Madeira ou no Marinho com Pinto. Estou a tentar, com o meu humilde voto, que o partido "europeu", que tanto poder tem dado apenas a Merkl e pouco mais, mais os seus fantasmas da inflação e o lucro descabido dos grandes poderes e grandes bancos "do norte", perca o poder que conseguiu à conta da desgraça "do sul". Voto na esperança de que uma visão mais à esquerda da "Europa", mais unitária e menos neurótica, volte a encarreirar aquilo que nos últimos anos tanto faltou: uma União. Quando chegar a vez das legislativas, logo falamos. Com sorte, serão antecipadas para não termos regabofe partidário com ainda mais vazio de poder na presidência, que já estaria só à espera do próximo galispo para o poleiro.

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    1. [Hipatia, desculpa só ter "libertado" a tua respostas hoje, mas há uma lei idiota que nos obriga a reflectir um dia antes das eleções...]

      A questão é que votei, sim, sabendo perfeitamente a importância e as competências do Parlamento Europeu (muito, muito poucas). E. como tu, também acho o "projecto" União Europeia, a organização política, económica e social mais estimulante, e única, em todo mundo. Mas só para quem acredita, como eu, nos valores que presidiram à sua constituição. Com ideias diversas das tua em como lá chegar, também eu repudio uma Europa dividida em Norte e Sul, mas não concordo que todas as transferências dum bloco para o outro não surtam num esforço de responsabilidade e responsabilização. Por outras palavras, o Sul recebeu muito dinheiro e, em quase todos os casos, foi malbaratado em todo o seu esplendor. Quanto às legislativas: quem é que fala nelas? Em Portugal, todos os partidos de esquerda. Qual é a pressa...?

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  4. Assino por baixo.

    Votei em quem conseguiu dar a volta a este país com sacrifício da classe média - em que me incluo - mas com mais eficácia e saber do que hoje se apregoa.Nunca fui socialista, mas sei que vão ganhar estas eleições. As outras? Ainda muita água vai correr under the bridge. A ver vamos!
    Em seis dias estarei na Luz. A fotografar o luar de Junho :)

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    1. Faz muito bem, Virgínia. Boas férias e boas fotos.

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