© Paulo Abreu e Lima

domingo, 14 de dezembro de 2014

placebo

A verdade é que ao longo da vida vamos encontrando respostas cada vez mais claras. A bem ser, claro, precisamos de procurá-las e perceber exactamente em que minuto nasceu a nossa necessidade de atenção. Por exemplo. Minuto talvez seja exagero, mas dia, eventualmente hora, noutros casos só altura. Não é natural que apareça sem busca intensiva e direccionada, não é como descobrir uma comichão na pele que facilmente percebemos vir das laranjas que comemos ao almoço. É outra coisa, o local onde se encontra é interno e passado, é preciso querer olhá-lo, saber percebê-lo, ousar dissecá-lo, uma perfeita conjugação, um enorme desafio, às vezes uma surpresa desregrada, só na instância inicial. Logo depois é cheirar. É trazer à tona e tocar, é olhar de frente e deixar que o sentido se assome logo ali ao lado da fragilidade sentida quando o que urge é transparecer o contrário. A auto-suficiência é cá uma coisa impossível... Não cremos nisso, desafiamos o mundo, o nosso intelecto, quase nos convencemos a nós mesmos que bastamos para prosseguir, é a assumpção da carência em forma de sistema defensivo. Assumir o engano tem os dois lados de uma mesma moeda, de um a porta que se abre, do outro a porta que se fecha: percebemos claramente a importância de parecermos fortes, consciencializamos de imediato o quão pouco a estratégia nos vale. Em termos práticos, claro, que em termos de regulação emocional é um comprimido e pêras. Placebo, mero pormenor, eventualmente consequente. Várias vezes por dia.

2 comentários:

  1. ao longo da vida, a partir de determinada altura, pelo menos, aprendemos a viajar leves. com pouco bagagem, apenas a de cabine. e depois, apenas, a de mão. finalmente, a de bolso. e só quando nos deixamos de preocupar com a bagagem é que notamos que há mais passgeiros no avião. a que chamamos vida.

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    1. A vida será um contrabalanço entre o nosso eu e os passageiros, alternando preocupações, importâncias e objectivos.

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