© Paulo Abreu e Lima

sábado, 17 de janeiro de 2015

As desculpas


Por norma, não me custa nada pedir desculpas. Se sou incorrecto, se ajo de forma negligente, se melindro, magoo e firo alguém. Qualquer dos exemplos, per se, é condição necessária para um meu pedido formal ou informal de desculpas. Ou é ditado pela minha consciência sem mais, ou os factos são evidentes, ou, se não o são, alguém me chama atenção. Mas não é suficiente. Falta a convicção. Até porque o discernimento da consciência nem sempre é destro, o que nos vislumbra agora claro por vezes opaca, e quantas vezes ninguém está por perto para nos desofuscar. Assim, não é a consciência da hipotética "infracção" cometida, mas a convicção íntima e intransmissível que enforma a condição suficiente. Sucintamente, será necessário uma má consciência, mas só se suficiente e segura. Óbvio que o bom senso e uma desenvolvida capacidade de compreensão compõem o ramalhete. Contudo há tanta imoralidade em não pedir desculpas como em pedi-las sistematicamente. O hábito do constante pedido indicia, entre outras, duas coisas: ou cometemos por sistema os mesmos erros, ou, inseguros (cá está a falta de convicção) pretendemos não desagradar alguém. Ora, aos convictos nunca se solicita pedidos de remição.

6 comentários:

  1. Curioso este tema. Porque também se pode sentir necessidade de pedir desculpa a alguém que não tem a capacidade para entender o que fizemos ou dissemos e se magoa connosco. A arte de comunicar é justamente esta: a de dizer o que importa em moldes que o "outro" possa entender. Se ele não atinge, não consegue perceber-nos e por isso "interpreta" mal o que dissemos, que fazer? Tentar explicar melhor dá, quase sempre, a sensação de remendo... do "pior a emenda que o soneto"!

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    1. A maior parte dos equívocos surge precisamente quando alguém acha que lhe devem desculpas ou quando dadas confirmam e agigantam o erro. Daí, muitas vezes não se pedem desculpas e prossegue-se com uma fuga para a frente, ou seja, "preso por ter cão e preso por não ter...". Quando sinto a necessidade de pedir desculpas, peço-as. E se for incompreendido, paciência, o problema deixa de ser meu.

      Bjo

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  2. Leio este seu post, Paulo, e lembro-me automaticamente daquela frase feita que eu detesto: "As desculpas não se pedem; evitam-se" (beurrk!).
    Não concordo nada com ela (e já falámos disto), porque eu acho que as desculpas se pedem sim, quando sinceras. A mim também não me custa nada pedi-las se acho ou sinto que devo fazê-lo, embora também conheça muita boa gente que nunca o faz por excesso de orgulho, ou nem sei bem o quê.
    E concordo consigo: a convicção tem aqui um papel determinante. Pior do que nunca pedir desculpa, é pedir desculpa por tudo e por nada, retirando ao facto qualquer significado. É o que fazem os meus alunos todos os dias, para dar um exemplo pouco relevante. ;)

    (Ah, saúdo o regresso das sua magníficas fotografias, além do resto... :-))
    Beijinho :)

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    1. Ri-me quando 5 minutos depois do seu comentário surge-me a dita frase no comentário anónimo em baixo.
      Ora, Isabel, os seus alunos pelam-se de medo de si... :-))
      Obrigado e beijinho :)

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  3. As desculpas não se pedem.
    Evitam-se!

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    1. Percebo a ideia, mas é o mesmo que dizer "as doenças não se têm, evitam-se". Ninguém está livre de cometer um erro, como de apanhar uma doença. Por mais saudável que seja o nosso estilo de vida.

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