© Paulo Abreu e Lima

domingo, 11 de janeiro de 2015

peste negra?


(imagem retirada do google)

As questões da doença mental têm muito para nos dizer. Até que ponto o conceito de normalidade se impõe como regulamento suficiente para aceitar, validar e admitir comportamentos, que por se inserirem no âmbito de um cultura, se tornam prática comum e tolerada? Será a linha dos cinquenta por cento capaz de nos indiciar o que é normal e patológico, o que é válido ou condenável, o que é saúde e o que é doença? Mistura-se por consequência o conceito de liberdade, outra linha suficientemente ténue para dar azo a manifestações diversas de índole distinta, com fundamentos válidos, com certeza, mas muitas vezes longe de serem absolutos e lineares. A forma de encarar o fundamentalismo e as convicções cegas não pode, quanto a mim, desligar-se por completo dos conceitos de doença social e individual, numa evolução clandestina subjugada a uma educação duvidosa e a valores totalmente opostos à manutenção sadia dos laços comuns. Parece-me fácil de considerar esta hipótese, mais ainda se tivermos em linha de conta que consideramos patológico o excesso de actividade, por exemplo, que pode mais não ser do que um desconforto emocional e relacional ligeiro, que acende a necessidade de movimentação extrema, por vontade de compensação. Por conseguinte, no seguimento, pode ser prudente e pertinente analisarmos a rigidez e alienação da doutrina como uma séria doença, que merece ser encarada como tal. Ouvir discursos dominados por graves limitações de inteligência, que colocam a existência humana como uma austeridade absoluta e determina por uma doutrina absoluta não é religião, é um sinal claro de uma falta de saúde mental preocupante. É claro que não poderemos isentar a sociedade mundial de uma certa culpa, pela necessidade constante e importante de alienação superior, própria da nossa condição. É clara uma dependência de justificação sagrada, que nos coloca como uns Deuses detentores de um lugar governado por uma entidade suprema que por ser uma crença tão íntima, se pode tornar uma imposição social. Essa necessidade poderá até ser minimamente salutar se a estrutura global do ser humano não se encontrar comprometida. Caso contrário, o sentir de reposição da ordem pode prevalecer, numa motivação psicopática dramática, capaz de matar em prol de um bem que não é mais do que um equívoco e uma necessidade suprema de controlar o mundo. Parece-me realmente muito dizer que a há uma peste negra a turvar os espíritos da terra. Mas por outro lado, chamar-lhe somente terrorismo, a mim, parece-me francamente muito pouco. É na doença que me cabe a maldade. Tudo o resto são terminologias confusas.  

4 comentários:

  1. "É na doença que cabe a maldade." Não poderia concordar mais, ainda que possa ser uma doença crónica, sem cura. Mas falar nestes termos, questionar, é demasiadas vezes apontada como uma desculpabilização. E não o é de todo. Só que não se tentar compreender o que estará por detrás disto tudo, não nos permite ver o quadro todo, prevenir origens.

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    1. E é tão importante encarar a realidade tal e qual ela é, Mãe Sabichona...

      Um beijinho para si.

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  2. Uma excelente reflexão.
    As usual.

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    1. Obrigada Uva Passa. Sempre simpática aí desse lado... :)

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