© Paulo Abreu e Lima

terça-feira, 27 de março de 2012

do bocejo

Eu, sujeito medonho atento à mediania melíflua, muitas vezes ainda pasmo com o que leio. Ele é «epifanias», «perenidades» e «inolvidáveis». Às vezes, tudo junto numa só frase, perenes epifanias inolvidáveis, inolvidáveis epifanias perenes, epifanias perenes e inolvidáveis. Até parece que processos cognitivos mais densos prescindem de estrelas caducas olvidáveis, ou Kekulé precisava de ter comido o rabo da cobra – não prescindem, nem necessitava.

Meus caros, buscam erudição semântica? Criatividade espessa inenarrável? Pareceres diáfanos abrangentes? Jungir o que gostariam de ter sido com o que majestaticamente são? Boa. Agora é só fazerem o contrário.

11 comentários:

  1. Julgam(talvez!!) que a criatividade está num certo gongorismo, que foi efémero há mais de 200 anos!!

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    1. E andam aos círculos, às elipses (olha aqui uma figura de estilo!), de régua e esquadro sem dizer nada. Toda a palavra tem um significado e, com ele, uma consequência. Avancemos, então.

      Abraço, Manuel!

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  2. Brilhante rasgo de retórica pertinente.
    Felizmente há luar....

    Bjo

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    1. Querida amiga, já me conhece há doze anos (doze, meu Deus!), e sabe o quanto embirro com mel condensado, não é? Mas atenção: já vi «epifania» da boa. Olaré! :)

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  3. ahahahahah muito bom!

    Também já li 'esta minha alma que se desvanece à lupa do teu olhar perene'.. :X

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    1. Portanto, vanece à lupa do teu olhar caduco, não?

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    2. Só quero frisar que o facto de embirrar com certas palavras, não as diminui em nada. Como é óbvio.

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  4. Perdeu-se simplicidade. Foi ficando por ai, esquecida. Na vida como nas palavras.
    E é na simplicidade que está quase tudo, o que é importante.

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    1. Na simplidade está tudo - haja quem a atinja - o que é mesmo importante.

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  5. eu por acaso gosto de metáforas... mas poucas vezes me dá para as epifanias. :)



    Sofia Vieira

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