Os avós ensinam muitas coisas, como a calma e a alegria de apanhar uma papoila e construir uma boneca. Ensinam que os doces se podem comer mesmo que os dentes doam, porque já sabem que o corpo não é assim muito feliz, só com cuidados em excesso. Sabem que o sol acorda cedo e que não se pode ficar na cama até tarde, e sabem que os meninos precisam sempre de uma história para adormecer. E de um copo de leite e de umas bolachas. Sabem que o tempo afinal existe e fazem questão de o mostrar. O tempo dos avós é diferente do tempo dos pais, o tempo dos avós tem umas horas compridas que ficam lá para o lado do jardim, aquele onde se corre atrás de uma bola e onde se esfolam os joelhos (que se curam num instante). E tem gelados e garrafas de sumo de laranja doce. Os avós têm rios e mares e castelos de areia que se fazem sempre mais uma vez, porque os avós nunca se cansam de repetir. Os avós têm ouvidos que entendem e palavras que contam verdades que não magoam, e ainda ensinam a sonhar. E a acreditar que o mundo é um local de bem e uma casa de brinquedos inventados, onde tudo pode acontecer. Os avós não falam rápido, gesticulam devagar. Não compram comida feita, cozinham em lume brando na cozinha e fazem compotas de frutas que guardam em frascos para o ano inteiro. E deixam as crianças ajudar, porque só eles sabem a sua verdadeira utilidade. Os avós percebem que quando as crianças estão doentes precisam de aconchego e alegria, e procuram tudo quanto possa sossega-las e confortá-las, nem que para isso tenham de mover o mundo. Sim, os avós movem o mundo, e ensinam as crianças que para isso é preciso querer muito, trabalhar outro tanto, saber escutar e saber dar e ajustar. Os avós apesar de moverem o mundo sabem que ele não muda, e que será sempre um sítio duro de se viver. Mas enquanto podem, enquanto duram, enquanto são e enquanto se dão, fazem-nos crer nessa ambição. Depois, tudo muda. Percebemos que envelhecem, que morrem, e que afinal o tempo que nos davam era o bem mais precioso, mas ainda assim limitado. Melhor do que ele só mesmo o amor que nos dedicavam e que não acaba nunca, a não ser quando nós, netos, velhos e cansados, deixemos de o poder guardar no corpo. Até lá estão sempre vivos cá dentro, na Primavera, no cozido à portuguesa, no prato de feijões com azeite, na máquina da costura, nas lengalengas repetidas, na força, no fracasso.
São, sem dúvida, os melhores seres que passam pelas nossas vidas...
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras.
São sim Annusca. E perduram vida afora, mesmo depois de partirem dela...
EliminarObrigada eu pela sua visita. Volte sempre.