Não me peçam para falar de amor. É um par de sapatos incómodo. Um aperta porque é curto, o outro escorrega porque é grande. É um seixo pesado como o mundo. Umas vezes aguenta todas as tempestades; outras, sublima e voa por todas as ilhas. Devia ser proibido falar dele como tudo o que demuda, incha o peito e desasa os braços. Como tudo o que percorre eflúvios regatos e delonga a vida. Façamos então outra coisa: se ele vos achar, calem-se e demorem-se no olhar. Memorizem o que puderem e mapeiem o labirinto. Depois, larguem-no às águas em garrafa arrolhada e lacrada. O segredo manter-se-á em quem o encontrar e ficamos assim. As grandes dádivas nunca devem parecer nossas.
© Paulo Abreu e Lima
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
Avareza
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Belo texto Paulo. Como é hábito!
ResponderEliminarFalar de amor é muito pouco.
Amar é bastante.
Dar-se é quase tudo.
Falar é nada, senti-lo maior que o corpo é imenso, dá-lo é a maior das dádivas.
EliminarBeijinho, Helena.
Foi o que fiz há muito. A garrafa ainda anda à deriva....
ResponderEliminarComo é que sabe que ninguém a apanhou...?
EliminarBoa pergunta....pelo menos não voltou à remetente....mesmo com o mapeamento esmerado que dele foi feito.
EliminarPois, mas não suposto voltar. Aqui só interessa dar.
EliminarO amor não se diz, de facto; o que há nele de essencial existe aquém e além das palavras, vive-se pelo lado de dentro e transparece às vezes em olhares silenciosos, em lágrimas incontidas, em gestos de dádiva e de afecto.
ResponderEliminarLindíssimo texto, Paulo. Bom, e da fotografia já nem digo nada.
Beijinho :)
É isso tudo, Isabel. Uma dádiva que recebemos e não devemos guardar connosco.
EliminarObrigado, beijinho :)
A questão é que necessitamos de colocar em palavras, internamente, tudo o que sentimos. Daí até tentarmos transpor para o exterior vai um passo, e como consequência ensaiamos tantas vezes... Concordo porém quando dizes que não deveremos explicar o amor ( coisa que tão bem fizeste aqui, muito discretamente... :)). Mas a tentativa, permanente e inacabada, faz parte da magia de senti-lo, ou será que não? E da plenitude crescente que é tentar definir o que de verdadeiro existe. Mesmo que nunca se consiga...
ResponderEliminar( Bela foto! Flores? Acho que numa próxima me perco por lá...)
Pois, mas é coisa que já desisti de tentar, tais as transfigurações com que nos surge. Até porque definir é limitar e disso não queremos, certo?
Eliminar(Obrigado. Não, é de Cacilhas :p)
Cacilhas também é um bom lugar. Leva-nos para outro lado do rio...
EliminarDo maior... :)
EliminarO problema não é tanto ele nos achar mas ele ficar...
ResponderEliminar~CC~
CCF, fica se o der.
EliminarMas como disse, não sou versado no assunto...
Se um aperta porque é curto, e o outro escorrega porque é grande...alguém se enganou no par! E eu nem precisava de ter falado nisto para ser evidente ;)
ResponderEliminarFalar de amor é bom, sim.
Embora haja momentos de silêncio partilhado , ou ternuras trocadas, com quem se ama, que dizem muito mais que mil palavras.
Ah mas não tenha dúvidas, Maria João, não há par que se ajuste em falando de amor: nenhum dos lados acerta no mesmo número ;)
Eliminar