© Paulo Abreu e Lima

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

o tempo

Há dias em que sinto que compro para mim mesma batalhas que jamais conseguirei ganhar. O sentimento surge-me agudo quando olho para alguém que eu gostaria de salvar a todo o custo, em prejuízo de mim própria. Quando isso me acontece preciso de parar. Preciso de redimensionar o universo e olhar para um sol, mesmo que a chuva turve o mundo à minha volta e me esconda toda a "evidente" claridade. Nunca na vida vou ficar distante do sofrimento alheio por muitos anos que o olhe de frente, lhe sinta o cheiro nauseabundo a entrar-me pelas narinas, lhe prove o sabor azedo que engulo devagar e a tanto custo. Com o tempo passa, diziam-me dantes, quando eu limpava devagar um choro teimoso. Mentira, mentiram-me à descarada, com o tempo não passa coisíssima nenhuma. Com o tempo só passou a ilusão da perfeição, que deu lugar ao derradeiro confronto com a verdade. O tempo neste campo só piorou tudo. Tudinho.  

6 comentários:

  1. Sabe o que uma amiga me disse/perguntou aqui há dias, quando me percebeu num desespero e tristeza desses? Disse-me "tu por acaso és a Madre Teresa? Não és pois não?"... e a verdade é que não sou. E a verdade é que muita gente não quer sequer a ajuda que quero dar, em detrimento de mim própria. Por isso, ultimamente, vem-me sempre à lembrança aquela pergunta da minha amiga. E por vezes refreio-me. E é bom. E não é egoísmo. É auto-preservação.

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    1. Admiro a sua visão Anita, mas não consigo encaixar nela. A meu ver todo e qualquer sofrimento me pertence enquanto ser humano. É uma chatice, um fardo, uma parvoíce, o que quiser. Normalmente já lido com a naturalidade possível, mas por vezes surge um de carácter maior. Há-de encaixar, claro, mas faz-me doer.

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  2. Uma amiga minha disse-me, um dia, uma frase que nunca esqueci: "Para viver uma vida plena, temos de perder o nosso coração todos os dias para o encontrar no coração dos outros". E eu acredito que esta é a melhor forma de nos mantermos vivos. Estamos todos interligados, entrelaçados na mesma condição humana. O sofrimento dos outros também nos pertence. Se queremos dignificar a nossa natureza humana, temos também de ser o outro, na suas alegrias e tristezas. É importante dar-nos, como o rio se dá ao mar sem, no entanto, acalentar a ilusão de conseguir tocar as estrelas, porque a perfeição não existe realmente.

    Um beijinho, querida CF

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    1. Não existe, é um facto Miss Smile. Mas essa consciência que a vida nos vai dando, nem sempre é fácil de encaixar. Ou melhor, vai encaixando, mas por vezes dá vontade de esganar a injustiça e repor a ordem. Mesmo quando sabemos ser de todo impossível...:(

      Beijinho, Miss Smile...

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  3. Mentiram sim CF. O tempo não cura nada.
    Umas vezes dá-nos a possibilidade de aprendermos a viver com a dor. Outras faz a dor aumentar.
    É uma grande chatice é o que é.
    Quem sofre pelos outros não quer tempo, quer conseguir matar a dor do outro naquele momento.
    É feio, eu sei, mas muitas vezes digo que gostava de ser egoísta e lembrar me mais de mim e menos dos outros. Um q.b. de egoísmo não é uma receita inteligente?
    Beijinho CF

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    1. Inteligente deve ser, mas acho-a impossível nesse equilíbrio desejado, não lhe parece? Eu, pelo menos, julgo que não o encontro em mim, e à minha volta vejo extremos: os que se preocupam demais, e os que se preocupam de menos... Matar a dor do outro é a minha utopia, acredite. Por vezes, quase sempre, centro-me mais nesse objectivo do que na morte das minhas próprias dores...

      Um beijinho para si... :)

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